domingo, 23 de março de 2008

Cansei daquela papo contemporâneo de que as pessoas estão impacientes por viverem na era fast, das soluções rápidas, mas não é todo mundo que tem aquele pensamento de um monge tibetano. Vai ver que é porque a gente não vive no Tibet, né?


se o mundo não vai bem
a seus olhos, use lentes
... ou transforme o mundo.
ótica olho vivo
agradece a preferência

(Chacal)

adoro Chacal. as minhas contradições também.

quarta-feira, 19 de março de 2008

Não sou muito devota da Igreja Católica, na verdade nem gosto muito, mas Páscoa, é Páscoa. Chocolate é ótimo, mas estou de regime. Espero que, nessa atmosfera de renascimento, eu posso renascer junto, dentro de mim, com a mesma força, mas com mais paz. Espero mesmo. A gente acaba vivendo na maior correria, angústia, bababá, se apegando a alfinetes e grãos, e acaba se cortando e se perdendo no meio de sentimentos mínimos. O ser humano é uma bosta mesmo, porque a gente só pensa nas brevidades quando alguém morre, aí você se choca de verdade, passa 2 semanas falando da espiritualidade, da crueldade dos homens e um tempinho depois volta a ser homem. É uma delícia... Que nem ovo de chocolate.


Falando nisso... Pra mim existem seres alienígenas na Terra. Pensei até em escrever que passaram poucos homens de verdade aqui, tipo Jesus Cristo, Gandhi, Tiririca... BRINKS. haha. Mas aí eu me lembrei que Gandhi seria um homem, se não fosse tão enxuto, por isso acredito em espíritos grandiosos, pertencentes a patamares muito maiores que o nosso.


Tava lendo Dalai-Lama, alguns pensamentos dele. Sei pouco sobre Budismo, mas já li um livro excelente, com sugestões para o dia, sempre abro na sorte, quase-sempre me é útil. Sim, continuando, li uma pergunta que fizeram a ele, e a resposta, ao meu ver, foi fantástica.


"O que mais lhe surpreende na humanidade?" E ele respondeu: "Os homens... Porque perdem saúde para ganhar dinheiro, depois perdem todo dinheiro para recuperar a saúde. E por pensarem ansiosamente no futuro, esquecem do presente de forma que acabam por não viver nem o presente, nem o futuro. E vivem como se nunca fossem morrer...E morrem como se nunca tivessem vivido"


Pensem e comam chocolate. Enquanto eu vegeto, literalmente, em São José. Buá.

segunda-feira, 10 de março de 2008


"A história do homem e da Terra tinha assim uma intensidade que lhe não podiam dar nem a imaginação nem a ciência, porque a ciência é mais lenta e a imaginação mais vaga, enquanto que o que eu ali via era a condensação viva de todos os tempos. Para descrevê-la seria preciso fixar o relâmpago. Os séculos desfilavam num turbilhão, e, não obstante, porque os olhos do delírio são outros, eu via tudo o que se passava diante de mim, - flagelos e delícias, - desde essa cousa que se chama glória até essa outra que se chama miséria, e via o amor multiplicando a miséria, e via a miséria agravando a debilidade. Aí vinham a cobiça que devora, a cólera que inflama, a inveja que baba, e a enxada e a pena, úmidas de suor, e a ambição, a fome, a vaidade, a melancolia, a riqueza, o amor, e todos agitavam o homem, como um chocalho, até destruí-lo, como um farrapo."



  1. Que lindo, Machado de Assis deveria ser um puta depressivo.
  2. Isso é um pólen, diretamente das pesquisas botânicas de TT. Coloquei porque eu tava lendo aquele livro simpático Memória Póstumas, que eu morro de rir. hahaha. Brás começa a falar do dia em que ele nasceu: Mais uma flor na árvore dos Cubas. E eu fiquei pensando: "Nossa, isso foi muito poético e romântico". Então ele começa a falar da criação absurda e doente que ele teve, o capítulo acaba "Dessa terra e desse estrume que nasce esta flor". uahauha. Meu Deus, que péssimo. E esse pólen é tão, mas tão sem vida (aparentemente, ok), que me inspirei ao não postar uma flor colorida, sob o raiar de um lindo dia.
  3. Tá bom, menos, Bárbara.

bjs

domingo, 2 de março de 2008


Transparecem nas simples atitudes a nossa necessidade de expressão. Acordei num dia de quarta-feira, logo na quarta, aquele dia meio-semanal que não te deixa feliz por causa da distância para o fim de semana e o cansaço dos dois dias anteriores. Prefiro as sextas, porque mesmo você já estando suficientemente esgotada para mais um dia de esforços, o consolo reside no dia seguinte. Mas as quartas-feiras não têm muitas novidades, pura rotina e muito cansaço, que consome as energias de tentar ser agradável com os outros e com os próprios pensamentos. Um cansaço de causar investigações de um simples desenho das nuvens.
Foi numa quarta que eu acordei disposta a mudar a minha rotina. Abri os olhos, as cortinas, as janelas, os braços, a porta, pronta para abrir e abraçar oportunidades. Simples, mas oportunidades. Acendi um incenso – o aroma do incenso alivia almas irritadiças, desbloqueia a respiração -, tomei um banho gelado. Resolvi ligar o ventilador e permitir que o próprio vento me secasse, lembrei da minha avó. Ela sempre me dizia quando eu era pequena que as melhores coisas da vida aconteciam no seu ritmo natural, e lembrei que o gozo também era assim. Talvez vovó falasse a verdade. Deixei-me em paz. Secando.
Falando em vovó... Nessa quarta-feira meio-semanal, me deu umas saudades da infância! Isso não acontece sempre, sabe, pois tento controlar o instinto nostálgico, já que Tico e Teco, meus dois queridos neurônios, são danados a me trazer a tona lembranças, com direito a cheirinhos e melodias. Peguei algumas fotos do armário e vi o quanto eu era feliz. E não sabia. Já dizia Ataulfo Alves. Era gostoso o tempo em que não tínhamos passado para futucar, quando a barba do meu pai cheinha de espinhos era meu maior e melhor atrativo e a bolinha de carnosidade do dedo mindinho de mamãe, a minha compulsão. Os banhos de mangueira, caçar soldadinhos, lavar carro, patins, tardinha era gostoso. Era gostoso os tempos dos inhos.
E hoje só problemas pra resolver, personalidades para equilibrar, pressa pra tudo. Ô vida-pressa. Mas nesse dia resolvi me respeitar, pelo menos por um dia. Vi as fotos, guardei-as, estava perto do almoço, mas fui à sorveteria da esquina. A mulher do caixa me deu o cardápio, acabei escolhendo o sorvete mais bonito, com calda de morangobaunilhamentacaramelo com direito a chantilly, granulados, biscoito, nem me importei muito com o sorvete, mas aquela fotografia estava linda! E fiel: o sorvete tava uma delícia. Voltei para casa satisfeita, comigo.
Voltei bem infinito particular e, por isso, resolvi escutar Marisa Monte. Marisa me parece ser tão limpa. Vai ver que é porque ela é vegetariana. Queria ser vegetariana, mas não consigo, porque quando eu como somente verduras e soja, fico logo com fome, aí acabo me afundando em porcaria. Já consegui passar uns dois meses sem comer carne, só que desisti também porque é muito chato ter de mudar o almoço da casa dos outros só porque você não quer comer carne. Mas Marisa me parece muito limpa. E escutei durante um bom tempo, ela é prática, sabe, e simples. Às vezes cansa um pouco ler Caio e Clarice, porque eles não propõem muitas soluções, freqüentemente falam de dor e incongruências, e eu deveria evitar essas leituras, porque sou tendenciosa para essa polaridade meio negativa. Nessa quarta resolvi fazer diferente.
Chegou de tardinha, vi um filme gostoso. Desses meio comédias românticas que eu raramente vejo. Dei umas risadas legais, é bom trocar um pouco. O cara da locadora deve achar que minha vida amorosa é pouco emocionante, porque eu sempre fico ajoelhada na parte de drama, nunca procuro um filme light. Nessa quarta ele deve ter estranhado. De noitinha, comi macarronada com suco de maracujá, depois maçã, para limpar os dentes.
Essa quarta foi, sim, bem meio-semanal, cronologicamente. De mim, dependeu a vontade de abrir ou fechar os olhos quando eles estavam fechados, dependeu de mim o cheiro do meu quarto, a trava dos meus músculos, a temperatura do meu corpo. Fui eu quem escolhi, antes de comer a maçã, o cheiro posterior da minha boca. Mudei algumas leituras, alguns filmes, alguns enjoys. Que não são necessariamente ações para soluções, mas possibilidades. E foram nessas pequenas ações que transpareceram a minha necessidade de expressão. A vontade de mostrar a mim mesma que tenho, sim, uma força gigante, atrativa e entranhada dentro de mim.