terça-feira, 23 de dezembro de 2008

O último de 2008

Que na festa tenha amigos, que de manhã tenha café, que na praia haja cerveja, que no bolo, cereja. Que dia de praia tenha sol, dia de pesca, anzol, que namorar tenha beijinho, que engordar... pouquinho, mas que, no domingo, tenha sorvete de menta com chocolate, afinal, faz parte. Que o sono venha manso, sem esforço, nem pranto, mas caso o estresse venha a mil, vale Rivotrill. Que a tristeza venha feito choro de menino, ao som de um violino. Que os livros sejam novinhos em folha, com cheiro de Cultura (a livraria), mas se não houver dinheiro, se o bolso estiver apertado, compre no Sebo ao lado. Que surjam novos sons, mas não esqueçam do som de grilo, som de água, som de vento, som de silêncio. Que os dias sejam claros. Que os amores continuem raros. Que eu conheça um novo povo. Que este seja mais um feliz ano novo.

Axé, Ilê ayê e viva o baticum, estou indo para a Bahia!






sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Namorar é

uma arte. Tem que ter criatividade, inspiração e, principalmente, talento. Porque namorar não é para qualquer um, isto é, não basta dividir a conta no restaurante e cultivar a foda fixa nos finais de semana: tem que fazer a comida e o sexo vira amor, a cama de casa, o corpo limpo e a alma em simbiose. Porque não vale ser comedido nas reações para evitar o pranto, tem que extravasar no grito mesmo, tem que dar o nó na garganta, a vontade de chorar e a inconformidade, tem que ficar quente de raiva para que depois venha o amor a dilacerar novamente e a paz se instalar e tudo voltar a ser como um rio antes da tempestade.

Definitivamente: namorar não é para qualquer um.

Namorar exige criação de dias, de possibilidades, de meias-verdades bem-intencionadas, de novas palavras, para que o significado destas não se perca e, como conseqüência, o ‘Eu te amo’ ou o ‘Quero você’ tenha valor semântico, som e, acima de tudo, a confissão no pé, nas pernas e nos braços do ouvido.

Exige inspiração. Exige amnésia. Exige humildade. Exige isso e muito mais para contornar mágoas e más-lembranças. Exige jogo de cintura, às vezes usado para uma imposição, às vezes para um menos humilhante pedido de desculpas (para os geniosos que associam desculpas à humilhação – viva, viva!).

Namorar exige talento, afinal, como eu disse, não é para qualquer um. Talento é aquilo que brota no indivíduo assim que este rasga o ventre da mãe. E, se uns têm talento para o cálculo, para a dança ou música, outros nascem com talento para namorar. Essas pessoas adoram dar satisfação, amam ser dependentes, detestam uma vida social muito ativa e morrem de ciúme, além de atenderem aos pré-requisitos anteriormente citados.

Namorar é, sim, uma arte. Não importa se a obra foi congruente ou não, porque Arte é Arte e, nas ruas ou nas galerias, sempre há um lugar onde podemos encontrá-la. Mas saindo desse papo de Arte... Namorar, definitivamente, não é para qualquer um.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Letra mais linda é aquela do Caê – Um índio.

Porque eu consigo imaginar a estrela. E um índio que sai da estrela. E, em contraste com o nosso futuro admirável mundo, aquele ser, de pena e pintura, vai mostrar o óbvio. Esses nossos óbvios mesmo, capazes de se tornarem ocultos de tão evidentes.

O índio vai ser (e é) aquele olhar não tão frio. Ou aquela necessidade do toque, do abraço, do algo mais a ser dito. O índio é a sanidade no meio de tudo isso meio louco. O índio preservado em átomos, palavras, alma, cor, em gesto e cheiro, em sombra, em luz, em som magnífico. Ai que falta a gente sente todos os dias de um Ser assim. Com maiúscula mesmo, porque exige identidade, esforço e, mais que tudo, equilíbrio: pra ser índio, pra ser são, pra preservar a alma.

São nesses tempos do bate-ponto, bate-estaca, bate-punheta, Bat-paciência que a gente vive mesmo. E nem adianta reclamar e bancar a isolada na Torre de Marfim (já foi a época de Baudelaire), porque é preciso viver, mesmo no meio de tantas incongruências. Mas feito uma estrela-cadente, de repente, repentinamente, a gente cruza os olhares com algum índio, que retribui um mesmo olhar de reconhecimento, típico do “somos da mesma tribo, segredo nosso”. É isso o que sustenta, é encontrar índios na selva. De concreto, vale ressaltar.

A gente reconhece pelo olhar, meio brilhoso de índio encantado e perdido. E as coisas que eu sei que ele dirá, fará, não sei dizer assim, de um modo explícito. Muitos nem falam, apenas sorriem, ou pregam o olhar. Para os menos experientes (tipo eu), ainda há susto, mas com o tempo acostuma-se com sorrisos especiais de alguéns desconhecidos. São índios, Caetano, e eles não são milagres divinos, são almas dentro de corpos, o que é precioso, já que existem muitos somente corpos.

Alguns índios vivem nas nossas ocas, outros estão pelo mundo, espalhados e vivos a espelhar o já não tão óbvio mundo. Amanhã virá, sim, um novo índio, impávido que nem Muhammed Ali, virá que eu vi, apaixonadamente como Peri, virá que eu vi, tranqüilo e infalível como Bruce Lee, virá que eu vi, o axé do afoxé, filhos de Gandhi, virá...