quinta-feira, 21 de maio de 2009

Para quem quer plantar um jardim

Planta cresce. Tudo cresce ao sabor dos ventos, que trazem água, calor, tempo e sorte. Não adiantam muitos adubos, tampouco livros de botânica. É involuntário: as plantas crescem. Basta um lugar arejado, espaçoso, quintal de casa antiga, varanda de apartamento pacato, três andares, pouca ambição e cheiro de almoço na panela.

Sem muitos esforços, acredite. Se você, porventura, quer plantar um jardim, preste atenção: não coloque adubos caros, não projete estufas (elas não são naturais), não vigie as flores – elas se sentirão inibidas para mostrar o que possuem de mais belo. Se você quer somente uma plantinha, pequeninha, na varanda do seu lar, advirto: nada de vasos acrílicos e frios, vindos da TokStok. Peça ao floricultor um jarrinho também pequeninho, de barro, onde você possa, inclusive, pintar.

São assim as pessoas, são assim os relacionamentos. Eles não crescem em ambientes limitados de vento e vida, não se reduzem a teorias livrescas sobre o amor, adoram todos os processos e correm das soluções. São assim as pessoas. Como o jarrinho de barro que aporta a plantinha, a nossa existência frágil deveria caber dentro de um par de meias, daquelas coloridinhas de lã, feitas para aquecer mesmo. A gente precisa de um lugar arejado, bem aberto, para extravasar a alma, dar uns gritos de vez em quando – apartamento pacato, três andares, sem porteiro.

As plantas e os seres humanos precisam de pouca ambição e arroz e feijão na panela. Isso sim. Porque com tantos enfeites e maquiagem, com redomas de vidro, as flores não crescem, porque os ventos não circulam, o tempo não flui e as águas se poluem. Porque com tanto salto, as pessoas não se livram do inferno de si mesmas.

Para quem quer plantar um jardim, aconselho:

Violetas
Begônias
Gardênias
Margaridas
e Gérberas

Traz ar puro, viu? Ainda bem já tenho o meu. Tenho 3ª do plural, tenho nós, tenho girassóis.