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Está ela no pequeno espaço da Galeria Mariana Moura. Lá no canto da sala, ofuscada por telas maiores e mais coloridas. Está lá, humilde e singelamente, aguardando a atenção de visitantes mais observadores, menos grandiosos, mais simples. Lechuga, ao contrário de outras peças encontradas no ateliê, localizado em Boa Viagem, não pretende chamar a atenção de ninguém. Suas cores e suas formas clamam pelo que é mais prosaico na vida cotidiana do ser humano contemporâneo: o seu lar.
A obra de Marina Rheingantz é grandiosa pelo que possui de simples. Em óleo sobre tela, tamanho 33 X 42 cm, vê-se um trabalho diminuto, no entanto capaz de abarcar uma infinidade de sentidos, tal qual um fragmento de memória em captação. Ao representar, em Lechuga, objetos que soam familiares ao homem, como cama, vento e flores, Marina obtém o sucesso de dar continuidade à formação identitária de suas produções, reconhecidas pelos tons rebaixados e pelas tentativas de representação dos lugares e objetos construídos pela memória humana.
Bucolicamente, Lechuga atinge o que está adormecido dentro do coração: a vontade de intimidade. Por viver em um universo cada vez mais concreto e impessoal, o homem se desliga, muitas vezes, da unidade de sua existência. Assim Lechuga, um quadro despretensioso, descoberto por uma despretensiosa visita, mostra que a existência do homem, no entanto, abarca sentidos múltiplos e únicos. O que não é, de fato, algo despretensioso.