quinta-feira, 15 de abril de 2010

seja herói

quero quase sempre, hoje, dia vazio, sem causa nem finalidade, ser invisível pra mim. capa de invisibilidade não resolveria. existe alguma interna? talvez remédio pra dormir. suicídio, não. suicídio é um terreno pra corajosos, heróis. a covardia tá na Terra, batendo boca, reclamando da vida como eu reclamo – e pergunto pra quê ela existe – agora. covardia é não ver propósito em tudo, é não decidir se matar. revólver, não. veneno. já viram coisa mais chique que se matar com veneno? mas barbitúricos, não voilá. covarde sou eu. quem foi que disse que existir é pros fortes? existir é pros fracos. os fortes já morreram, já tomaram seus barbitúricos, sua overdose, tuberculose. coisa mais chique é morrer tuberculoso, com um cigarro na boca. isso é que é classe. e eu aqui. e você aqui. esperando morrer com câncer, parada cardíaca, atropelamento. coisa mais pobre é morrer de atropelamento. só me lembro de Macabéa e a sua estrela que brilhou uma vez na vida, finalmente. esse é o nosso destino, morrer e ter, finalmente, uma hora de estrela. isso não é heróico. heróico é morrer cedo – e de veneno ou tuberculose. que seja. a covardia está aqui. vocês vão ler este texto, se ocupar em outra tarefa e outra e outra e outra e outra, preenchendo o vazio onde deveria estar um comprimido. tome barbitúricos, seja herói. vou pra covardia dos meus dias e adeus.

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