segunda-feira, 25 de abril de 2011

Tigresa

O mal é bom. O bem cruel, meu bem. Meus pelos tremem ao teu vento ateu. Sabe, eu até que gostava de política em 1966, mas abandonei tudo. Caí no mundo. Hoje danço de mês em mês no Frenetic Dancin’Days. Não tenho muita certeza, mas eu era atriz, trabalhei no Hair... Com alguns homens, fui feliz. Com outros, fui mulher.

Tenho muito ódio no coração, mas tenho dado muito amor. Me julgam, mas quem quer meu prazer, passa por muita dor.

Acredite. Prometo que vou mudar. Quero um lugar onde a gente, a natureza, os píncaros e as azaleias vivamos em comunhão...

Mas, sabe, não sei.

Amanhã, a manhã nasce azul. E penso: como é bom poder tocar seu instrumento...

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Que é amor?

Amor é ioiô. Quando vai, já tá voltando. Sabe? É chiclete. Às vezes tá navegando esquecido na maciez da língua, outras tá preso, moldado no formato do dente. Amor não larga, bicho. Fico ali, na espreita, pronto pra atacar. É feito policial à paisana. Tem cara de amizade, mas não, tem coisa por ali. Amor gruda feito cola, impregna feito cheiro de cigarro, ocupa a casa, o passado, a execução mais simples da vida cotidiana... Não sai não. Por mais que a gente queira que não.

Amor é feito essas lojinhas tecnológicas de reconstrução de fotos antigas. Passa verão, passa inverno, sabe reconstituir a foto mais amarela do álbum de 2005. Amor é feito vírus. Ora tá latente, ora se manifesta. Amor é enganoso. Quem foi que disse que ele está em Roma? Amor tá em cada canto da casa, menino. Amor é feito água. Pode assumir vários estados, mas no fundinho do copo, continua sempre o mesmo. Amor, ora, o amor. Amor, meu Deus, alguém ora por ele!

Amar é o intento de Kandinsky: desestruturar o real. Amar é feito birilo. Tá ali, mas a gente nunca vê. É feito fumaça, espírito, ar, moléculas. Nos rodeia e absorve, mas não percebemos. Amar não é escolha não, garoto. Quem foi que disse? A gente escolhe o que comer e o que vestir, mas escolher amar? Fica até estranho. Escolher dormir. Escolher crescer. Escolher respirar. Nem combina. É feito linguagem e ser humano. Um não vive sem o outro.

Amar é comparar o tico com o teco. É criar metáforas. Ilusões. Criar um falso universo comum a dois. É o esforço da comunicação. Entendesse, menino lindo, o que eu quis dizer?