sábado, 27 de setembro de 2008

um parágrafo

Seus cachos e braços e bocas e dentes me mastigam assim por dentro, por frente, em mente. enrolam meus gestos e frases fracas, mas fortes, expressivas de um amor indizível, invisível, indivisível, amor só meu, solitário, mas único. amor meu que junto ao amor seu vira um novo amor de alma junta que se ajunta mesmo desse jeito vicioso e simbiótico do doiseum. seus olhos de brilho assim parecem aquela lua que vi um dia em uma cidade desconhecida e profundamente doce seus olhos são doces mas parecem gulosos dos meus olhos-frutas também gulosos dos seus olhos e beijos e cheiro de jogo que me leva nessa dança de cachos e braços e bocas e dentes, nessa dança de corpos juntos, nessa trança de provocações que me enrolam como os seus cachos são enrolados, que me enrolam, ah... que me enrolam nesse novo nó que me prende a um nosso novo ninho de intenções.

domingo, 14 de setembro de 2008




É belo. É simples. É leve e veio
assim em mim
feito vento de domingo –
despretensioso.
É mais que toque, époque
de l’amour
por tu, pour toujours

É o mundo inteiro
Todas as línguas
and kisses, y besos –
sem pesos, cem beijos
É metade cheio, meio
meu e teu
meio Ateu

Ignorem os heptetos
Que falo de par,
de amar
Que falo das metáforas gastas,
dos amantes bregas
de bolero de fim de noite – início de dia
do vinho tinto e das cartas a lápis
Que falo de todas las cosas
hoy por mí queridas.




(sob o efeito das cartas de Frida Kahlo a Diego Rivera)

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

“Os dragões, com a boca enorme,
estão comendo os sapatos
dos meninos que não dormem...”

(Mário Quintana – Canção da aia para o filho do rei)

Não, não é sabedoria chinesa: os dragões são seres fantásticos. Mas não falo do fantástico sinônimo de imaginário, falo do fantástico como um elogio, fantástico de impressionante, entende?

É que os dragões estão soltos por aí, meu bem, e eles sacrificam tudo o que não signifique Vida. Primeiro as cores: fortes. Dragão cega o preto e branco e coloca aquele degrade incertíssimo, fluido e confuso. Será a vida um intenso cor-dragão? Depois vem as asas. Sem rodapés. O pensamento voa, sabe? E, por você, por mim, por nós, não o fixe nesse chão áspero e rochoso, tão diferente do nosso universo construído à sombra das nossas mãos. O mais importante, o mais lindo nos dragões, inferno astral, é o fogo. É que essa matéria me lembra sempre a fraqueza das nossas peles e cabelos, mas é ela que fortalece nossas ligações que transcendem tudo isso que posso chamar de - mundo material.

Os dragões estão soltos por aí, meu bem. E eles sacrificam tudo o que não signifique Vida. Você talvez não saiba, mas eles comem os travesseiros daqueles que não sonham e devoraram os telefones dos que vivem a se lamentar da vida amortecida e queimam os neurônios dos investigadores da simplicidade e riscam receitas médicas e gritam um fogo brilhante e cristalizado ao amor, aos amantes, a todos nós, amigos de dragões. Eles são seres fantásticos, sabe? E não, não vão nos sacrificar, porque somos cores e asas e fogo. Porque significamos vida.