sexta-feira, 28 de outubro de 2011
Considerações sobre o boy magia
terça-feira, 18 de outubro de 2011
dá a mão!
domingo, 9 de outubro de 2011
Algum padrão diz do que
e de quanto vive?
Ele vive do que deseja?
É uma necessidade?
Subsiste no fundo do tempo?
Faz-se num minuto? Morre
no outro? Perdura uma existência inteira?
O desejo que não desejamos,
refreá-lo como? Respiramos.
Há interromper-lhe o passo?
O desejo nos ouve?
É cego? É doido? O desejo vê
mais que tudo? São os nossos
os seus olhos? Se os fechamos,
ele finda? Quem pôs o desejo em nós?
Onde está posto? E onde não?
Penetra o sonho, o trabalho, infiltra
nos livros, no óbvio, nos óculos,
na cervical, na segunda-feira e os versos
não sabem outro tema.
Há quem não deseje?
Tudo o que vive deseja?
Faça-se o exercício: não desejar,
por um mês, uma semana,
um dia. O desejo fabrica-se
de nenhum aval? Ele não teme?
Não receia o sal à face da razão?
Não teme a dor, decerto, que dela
parece, por vezes, primo-irmão.
E perguntamos, perplexos. O desejo
é uma forma oblíqua de alegria? Brinca
conosco? Mas, brincarmos com ele,
ai de nós, é de seus truques
o mais fatal. Morremos de desejo?
Com ele removemos pedras?
Por ele removemos montanhas?
Pode o desejo mover o não?
(O não: esta seta o mata?
Ou esta farpa fomenta o que nele nos ultrapassa
e que, sem nome nem fim, não desistirá
senão quando tudo morto em nós?)
Química tão secreta,
não vale a pena qualquer pesquisa,
uma pluma, este poema.
quinta-feira, 6 de outubro de 2011
próximo verão (aqui inverno)
eu falo calma com os olhos. você concorda e ri. você sabe que a história vai ser longa e que não temos pressa nem urgência de viver o que sabemos que, inevitavelmente, vai acontecer. vai acontecer porque dizem os olhos, a pele e todo o nosso repertório de símbolos. eu falo calma com os olhos. você me responde com calma. sim. teremos o nosso tempo. amanhã ou depois, inevitavelmente, o vidro transparente se quebrará e, aí, magnetismo.
os seus cabelos molhados no meu travesseiro. o meu celular no seu sofá. xícaras com café e pratos sujos no domingo. preguiça. o filme que começa acompanhado e acaba sozinho, quando o verdadeiro prazer está in duo... o esquecimento das roupas, do caderno, da escova de dente, do pente... os planos de viagens exóticas, as revistas lidas a dois, as lágrimas, a prece, os abraços e os beijos que desesperadamente unem.
eu falo calma com os olhos, você acata e esperamos o tempo escolher a hora. enquanto isso, observo os cabelos negros, as mãos brancas e os olhos apertados que um dia tocarei. pacientemente. mas, confesso: já comprei duas xícaras de café, o filme que abandonaremos e a escova de dente que esquecerei. quanto à viagem exótica, dentro da gaveta duas passagens para o Marrocos. os beijos e os abraços são grátis.
domingo, 2 de outubro de 2011
e luz, que recobri com a pele,
onde instalei meus ossos desatados percutindo
no vento, está lá
o arabesco,
sem arrimo, pingando um tempo estacionário entre
palmeiras, contra o céu da Voluntários, o Cristo
ao fundo, o cinema. Seu movimento
hesita, esgrima, cigarra, urina, é-não-é,
flores da ferrugem, palavras fáceis e cento
e um dentes ameaçando carros e coisas
elétricas, edifícios em fila, famílias. Fiz
o que tinha de ser. Ficou lá, inútil, ardendo
sobre o trânsito,
o móbile
gigante que seus olhos não viram,
que seus olhos não quiseram,
que seus olhos não e não.
Ficou lá, inútil, adiado
sobre o domingo,
o monstro
que seus cuidados não souberam,
que seu medo não quis,
que nem ao menos.
Está lá, inútil, ardil desativado,
sobre nada,
lixo,
lixo,
mas, esteja certo disto, tinha o tamanho
certo de nos vestirmos com ele, para,
dentro dele, suspensos,
descansarmos na palma um do outro, acredite,
era lindo, era fácil,
era puro.