domingo, 2 de outubro de 2011


Móbile
Eucanaã Ferraz
Passamanarias de arame, papel
e luz, que recobri com a pele,

onde instalei meus ossos desatados percutindo
no vento, está lá

o arabesco,
sem arrimo, pingando um tempo estacionário entre

palmeiras, contra o céu da Voluntários, o Cristo
ao fundo, o cinema. Seu movimento

hesita, esgrima, cigarra, urina, é-não-é,
flores da ferrugem, palavras fáceis e cento

e um dentes ameaçando carros e coisas
elétricas, edifícios em fila, famílias. Fiz

o que tinha de ser. Ficou lá, inútil, ardendo
sobre o trânsito,

o móbile
gigante que seus olhos não viram,

que seus olhos não quiseram,
que seus olhos não e não.

Ficou lá, inútil, adiado
sobre o domingo,

o monstro
que seus cuidados não souberam,

que seu medo não quis,
que nem ao menos.

Está lá, inútil, ardil desativado,
sobre nada,

lixo,
lixo,

mas, esteja certo disto, tinha o tamanho
certo de nos vestirmos com ele, para,

dentro dele, suspensos,
descansarmos na palma um do outro, acredite,

era lindo, era fácil,
era puro.

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