quinta-feira, 27 de novembro de 2008


Essa história de que rir de tudo é desespero não ta com nada. A gente tem que rir mesmo. Do Bush e do Obama. Faustão e Sílvio Santos. Rir dos grandes e dos pequenos. Rir dos pequenos que querem ser grandes e dos grandes que preferem a pequenez. Rir da moça que se veste mal. Rir da modelo anoréxica. A gente tem que rir mesmo dessas antíteses que não se anulam e guardam dentro de si o que há de malvadez despropositada ou bondade duvidosa. Rir do Bush new Hitler, rir do Obama, o nego bom. Rir da barriga pendurada do Faustão (que merece uma redução) e da pouca maquillage do Sílvio. Rir da Maísa, afinal ela merece as melhores risadas. Rir da anoréxica que não sabe as delícias de um petit gauteau. Hum. Deu fome. Rir de mim, que regro cada grama de comida a ser ingerida. A gente tem que gargalhar todos os dias pra sustentar as bizarrices que aparecem. É sexo em parque público (corram para a Holanda), roupas made in Japan para sexo virtual, JC-Classificados-Acompanhantes. E no final a gente morre de rir. Os mais preocupados pensam nas criancinhas do futuro com brinquedos eróticos, ops, créditos para Aldous Huxley. A gente tem que rir mesmo, de todos os ismos, que não cansam de buscar explicação pra tudo, do grão de areia ao buraco negro; vocês já ouviram falar na religião do macarrão? Tem essa também. Diz que o cosmo integra o fio de um spaghetti. E depois disso o que a gente faz? Tem que rir. A gente ri da Carla Perez, Bro’z, Rouge, Tati Quebra-Barraco... Amanhã RBD. Ai, Jesus. Tem que rir, tem que rir. E não entendo por que, diante de tantas distrações, ainda tem gente que tem depressão. Isso é coisa de outras datas, quando não se tinha o que fazer mesmo, tempos bucólicos. O bom é sentar no sofá, ligar a TV, pegar uma Coca-Cola e, com glamour, explodir uma bomba de serotonina.
  • Foto: Sir Charles Spencer "Charlie" Chaplin Jr. Ator, diretor, roteirista e músico britânico (sim, ele foi músico). Jogava xadrez, era canhoto e tinha uma mãe louca. Assistir: Luzes da Cidade (1931) e Tempos Modernos (1936).

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Lya Luft; in Pensar é transgredir.

"[...] Relacionamento perfeito, nem pensar.

Mas uma ligação de cumplicidade e ternura, de sensualidade e mistério, ah, essa eu acho que pode existir. Como todos os contratos (não falo dos de papel mas de corpo, coração e mente), esse precisa ser renovado de vez em quando: a gente tira o contrato da gaveta da alma, e discute. Briga talvez, chora, reclama, mas ainda ama, ainda deseja. Ainda quer o abraço, o passo no corredor, o corpo na cama, o olhar atento por cima da xícara de café... quer até a desorganização e a ruptura, para depois de novo o que é bom se reconstruir.

Que seja vital: isso me parece uma boa parceria. Que seja dinâmica, seja lá o que isso significa em cada caso. Pelo menos, não acomodada; mas muito aconchegante. Que seja sensual e amiga, essa ligação: se não gosto do outro como ser humano, com seus defeitos, sua generosidade e egoísmo, força e fragilidade, se não o quereria como amigo... como então, mesmo com tempero do desejo, posso me relacionar com ele para uma vida a dois?

O tema é quase infinito: pois cada caso é um caso, assim como cada casal é um casal, e cada fase da vida do indivíduo ou dos dois é diferente. O bom é quando essa constante transformação se faz para maior cumplicidade, e não mais distanciamento. Que um relacionamento não seja prisão; que não seja enfermaria nem muleta; mas que seja vida, crescimento (turbulências eventuais incluídas). Que seja libertação e ajuda mútua; não fiscalização e condenação, a sentença pronunciada numa frase gélida ou num olhar acusador, ar de reprovação ou lamúria explícita. Que seja cumplicidade, porque a vida já é difícil sem afetos. O som dos passos no corredor pode ser um conforto inacreditável, o corpo ao lado na cama uma âncora para a alma aflita. O entendimento recíproco é um oásis no isolamento desta nossa vida pressionada por tempo, dinheiro, regras, mil solicitações de família, trabalho, grupo social, realidade do mundo.

Que seja presença e companhia, o relacionamento bom: pois a solidão é um campo demasiado vasto para ser atravessado a sós."

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Impressão digital


Às vezes a gente tem que se controlar um pouquinho pra não abrir o jogo, a vida e todas essas coisas meio pessoais demais para um Blog. Talvez a época dos segredos sagrados, dignos de páginas de diários, já tenha acabado com todas essas digitalizações & publicações de sentimentos. Tsc. Tento exercer aquele auto-controle básico pra não deixar tão perceptível meu estado de humor, mas basta uma amiguinha um pouco curiosa ler um dostextos e falar: poxa, tua cara, esse texto está tão depressivinho, amiga. E a gente vê que deixou clara a cara, o canto mais íntimo à toa, visível e transparente. Não tem jeito. Assim também seriam com os escritores da época lápis-papel se eles tivessem a oportunidade de publicar os seus textos todos os dias, mas como eles dependiam (e ainda dependem, ainda bem) das editoras e, principalmente, das inspirações (para escrever em Blog basta vontade de expressão) , valham-nos mais ou menos uns 8,9, 10 anos para saber como se sentia Gabriel na cidade de Macondo, ou Hesse naquele estágio de meia-vida, encarnado em um Lobo da Estepe. E é assim que a gente nunca sabe muito -  no tempo certo - as intimidades mais lindas e cruéis desses dois escritores amados. E é assim que as pessoas sabem, nesse tempo do imediatismo, como eu, ele, ou ela, pobres blogueiros nos sentimos. É. Não tem jeito. Ou eu deleto essa página virtual, ou me deixo consumir por essas digitalizações da vida, essa necessidade de expressão cada vez maior, incapaz de ser reprimida. Posso falar de metáforas, mas quando vem alguém e me diz que o texto depressivo ou feliz estava a minha cara, cara, eu me frustro.

Bem. Essa é mais uma impressão digital.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Ao som de "Desde que o samba é samba",
agora na voz de Gal
 
É nessa rotina meio massificante de casa-escola-escola-casa que a gente cria as relações mais presentes. Existem, sim, aqueles amigos de longe que, quando perto, mostram-se ainda e sempre amados e amáveis. Tem aquele que a gente vê nos bares e cantos da cidade, sempre pronto pra um brinde. Tem o colega do inglês, o da natação, o do cursinho, aquele que sempre está do seu lado pra passar a fila, o assunto, o comentário inútil e necessário nos minutos de silêncio. Existe toda a espécie de figurinhas que compõem o dia-a-dia de quem tem, sim, muito o que fazer. Nesse álbum tem também o amor, guardado para os dias de folga e espaçamentos livres do dia (é a parte boa da rotina) e pai e mãe, sempre ali, com o canto do olho aberto em atenção ao filho eternamente pequeno. 

Nesse bolo de personagens, existem aqueles que estão sempre ao lado, diariamente, a todo o momento, prontos para o brinde, para o comentário inútil, para o carinho e, é claro, com o canto do olho sempre aberto, em atenção às falhas e vitórias. É esse tipo de figura que suporta as suas tensões pré-menstruais, escuta com uma comumente desatenção as suas crises desimportantes e passageiras. Esse tipo tem, sim, o cacife de falar dos seus erros, a paciência de ser a vela das suas ficadas mais estranhas e a ousadia de fazer o convite de ir ao centro da cidade nas horas mais quentes do dia. Por ação do destino, algumas pessoas cruzam rotinas com as nossas, mas somente poucas, digo, uma ou duas, atendem ao tipo de figurino e personalidade de que falo. Não adianta: elas quebram tudo o mais de normal, cronológico e infeliz de um desses dias meio massificantes. É fato que existem diferenças em todo esse meio, mas o amor é enorme e, não adianta reclamar- desde que o samba é samba é assim.