Letra mais linda é aquela do Caê – Um índio.
Porque eu consigo imaginar a estrela. E um índio que sai da estrela. E, em contraste com o nosso futuro admirável mundo, aquele ser, de pena e pintura, vai mostrar o óbvio. Esses nossos óbvios mesmo, capazes de se tornarem ocultos de tão evidentes.
O índio vai ser (e é) aquele olhar não tão frio. Ou aquela necessidade do toque, do abraço, do algo mais a ser dito. O índio é a sanidade no meio de tudo isso meio louco. O índio preservado em átomos, palavras, alma, cor, em gesto e cheiro, em sombra, em luz, em som magnífico. Ai que falta a gente sente todos os dias de um Ser assim. Com maiúscula mesmo, porque exige identidade, esforço e, mais que tudo, equilíbrio: pra ser índio, pra ser são, pra preservar a alma.
São nesses tempos do bate-ponto, bate-estaca, bate-punheta, Bat-paciência que a gente vive mesmo. E nem adianta reclamar e bancar a isolada na Torre de Marfim (já foi a época de Baudelaire), porque é preciso viver, mesmo no meio de tantas incongruências. Mas feito uma estrela-cadente, de repente, repentinamente, a gente cruza os olhares com algum índio, que retribui um mesmo olhar de reconhecimento, típico do “somos da mesma tribo, segredo nosso”. É isso o que sustenta, é encontrar índios na selva. De concreto, vale ressaltar.
A gente reconhece pelo olhar, meio brilhoso de índio encantado e perdido. E as coisas que eu sei que ele dirá, fará, não sei dizer assim, de um modo explícito. Muitos nem falam, apenas sorriem, ou pregam o olhar. Para os menos experientes (tipo eu), ainda há susto, mas com o tempo acostuma-se com sorrisos especiais de alguéns desconhecidos. São índios, Caetano, e eles não são milagres divinos, são almas dentro de corpos, o que é precioso, já que existem muitos somente corpos.
Alguns índios vivem nas nossas ocas, outros estão pelo mundo, espalhados e vivos a espelhar o já não tão óbvio mundo. Amanhã virá, sim, um novo índio, impávido que nem Muhammed Ali, virá que eu vi, apaixonadamente como Peri, virá que eu vi, tranqüilo e infalível como Bruce Lee, virá que eu vi, o axé do afoxé, filhos de Gandhi, virá...