sexta-feira, 20 de junho de 2008

Essa minha paixão pelos escritores da solidão me condena, sabiam? Acho que falar "escritores da solidão" soa um pouco reducionista, como se Caio só falasse de solidão, enquanto, na verdade, fala um tanto de alegria ou, quem sabe, pelo menos, busca por ela. Tomei um susto quando li por inteiro o conto "Vai passar", porque ele é diferente de todas as outras coisas que Caio escreveu, mas, repetidamente, fala de "cigarros hollywoods e manchas de café". No final, digo. Prefiro o começo. Acho que, se ele estivesse vivo, eu escreveria uma carta, essencialmente um lembrete, a dizer: Por favor, cara, que tal falarmos de cházinho e felicidades e multidão, em vez dessa solidão que me encanta e me faz querer te ler todos os dias?. Ele me mandaria como resposta o conto "Vai passar", que fala da solidão gostosa, da solidão feliz, que mostra que, para se ajudar, não é necessário ler livros de auto-ajuda. Categórico Caio.

"Vai passar, tu sabes que vai passar. Talvez não amanhã, mas dentro de uma semana, um mês ou dois, quem sabe? O verão está ai, haverá sol quase todos os dias, e sempre resta essa coisa chamada "impulso vital". Pois esse impulso às vezes cruel, porque não permite que nenhuma dor insista por muito tempo, te empurrará quem sabe para o sol, para o mar, para uma nova estrada qualquer e, de repente, no meio de uma frase ou de um movimento te supreenderás pensando algo como "estou contente outra vez". Ou simplesmente "continuo", porque já não temos mais idade para, dramaticamente, usarmos palavras grandiloqüentes como "sempre" ou "nunca". Ninguém sabe como, mas aos poucos fomos aprendendo sobre a continuidade da vida, das pessoas e das coisas. Já não tentamos o suicidio nem cometemos gestos tresloucados. Alguns, sim - nós, não. Contidamente, continuamos. E substituimos expressões fatais como "não resistirei" por outras mais mansas, como "sei que vai passar". Esse o nosso jeito de continuar, o mais eficiente e também o mais cômodo, porque não implica em decisões, apenas em paciência.Claro que no começo não terás sono ou dormirás demais. Fumarás muito, também, e talvez até mesmo te permitas tomar alguns desses comprimidos para disfarçar a dor. Claro que no começo, pouco depois de acordar, olhando à tua volta a paisagem de todo dia, sentirás atravessada não sabes se na garganta ou no peito ou na mente - e não importa - essa coisa que chamarás com cuidado, de "uma ausência". E haverá momentos em que esse osso duro se transformará numa espécie de coroa de arame farpado sobre tua cabeça, em garras, ratoeira e tenazes no teu coração. Atravessarás o dia fazendo coisas como tirar a poeira de livros antigos e velhos discos, como se não houvesse nada mais importante a fazer. E caminharás devagar pela casa, molhando as plantas e abrindo janelas para que sopre esse vento que deve levar embora memórias e cansaços" (retirado do semamorsoloucura.blogspot.com)

Continuando o que eu tinha falado no começo, essa minha paixão pelos (aspas) escritores da solidão (aspas) me mata e me vive um pouco. Me mata, muito, de amor. E me vive desse morrendinho bom. E fiquem felizes por mim: Descobri Ana Cristina César, que, por sinal, era amiguíssima de Caio e cultivava um estilo parecido com o dele, nas idéias, mas, é claro, deixou soar a alma feminina, o lirismo da poesia, as doses de amor leve que pouco encontrei nos contos de Caio, densos.
Pelo que li na Internet, Ana escreveu poucos livros, já que compôs a sua obra através de cadernos de rascunhos e cartas, dando aos seus textos um caráter mais autobiográfico.


ESTOU SENTINDO DIFICULDADE REAL DE transar com as pessoas. Parece uma frase muito genérica, que se poderia dizer a qualquer momento da vida. Mas agora tem um sentido mais particular pra mim. Me sinto isolada, sozinha, sem amigos. Há os amigos, mas desconfio deles, acho sempre que não gostam de mim. Talvez esteja entrando em contato com alguma coisa que sempre foi verdade mas que eu nunca percebi: que realmente não tenho relações. Outro dia tive uma depressão forte. Estava sozinha em casa. Percorri o caderninho de telefones. Não tinha nenhum nome que me pudesse ajudar. (Trecho de Carta a Cecília Londres)

Verdadeiramente. E Lindo por causa disso.

Como rasurar a paisagem

"a fotografia é um tempo morto

fictício retorno à simetria

secreto desejo do poema

censura impossível

do poeta." (ANA C.)

3 comentários:

Unknown disse...

essas coisas de dificuldade para transar com as pessoas, de abrir o caderno de telefones (agendinha de celular), do vazio e da ausência.. e tu ainda me dá um soco no estômago com aquela da alice maria da graça. PUTA QUE O PARIU BARBARA. e ainda escreve fuderosamente bem e facil do jeito como se tu tivesse na minha frente falando essas coisas.
ai enfim, cê tava escondidinha aí mas eu te achei :)

ah, quer mais solidão que bukowski doido? mas tu não gosta :~

Unknown disse...

34458749
pode me ligar fro!!!
eu to aqui!
eahaeuhaeuae
sou tua amiga.. =D

Tt disse...

ai tu tas escrevendo tão lindinho!