quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

agora prismático

Eles estão espalhados aqui no meu quarto. O furacão é total, é constante, destrói a ordem (o que será a ordem senão o agora?), desestrutura os pilares e apenas deixam visíveis os restos, os fragmentos espalhados de uma memória outrora completa. Embaixo da cama, da cadeira, sobre o travesseiro, na própria pele: somente os espectros de um prisma que não se encontra, ou se encontra perdido no emaranhado da mente, diluído em outros prismas maiores, construídos pela mesma entidade biológica em diferentes estados de espírito. Está tudo espalhado, desorganizado, carente daquela inerente necessidade do ser humano de querer entender tudo, de catalogar, de saber o começo, o meio e o fim. Tá aqui na pele, no suor, no cheiro, a gente se carrega feito cruz, feito karma, a gente tem um mal de alz-heimer para o resto da vida, um mal que nos deixa como herança da vida vivida apenas os espectros de um prisma que já foi concreto no agora e que hoje se emaranha nas infinitas dobras de neurônios, axônios e dendritos, ou até nem mais exista. A verdade (ou inverdade consoladora? sentença fabricada por quem sempre quer saber o começo, o meio e o fim?) é que, após a bebedeira, a paisagem, o carro, o livro, o sexo, somos somente uma essência, um concreto mais fluido do que se imagina, um nada pretenso a tudo, uma interrogação constante e – talvez – eterna, se não houver o que chamamos de Deus, Entidade Superior ou vida-após-a-morte. Mas a vida enquanto vida está aí: os prismas estão no agora, que agora já é passado, e agora o prisma do passado já é espectro de prisma, porque somente quem não é humano consegue descrever os prismas como eles sempre foram, cada cateto, ângulo e inclinação. Ser humano mesmo esquece o prisma que já viveu, deixa o espectro tomar conta do quarto, da pele, do cheiro, e desse espectro ele se constrói, se torna um outro espectro maior, mas não menos fluido, não menos perecível e inconstante que o mais pequenino dos espectros de prisma.

Um comentário:

Ana Vallestero disse...

Tu ta triste momo?

Bjo bjo

vou pintar uns quadros bem coloridos pra você.

Te amo