quarta-feira, 9 de junho de 2010

Os sonhos I


Quem nunca ouviu a expressão "fio da vida"? Quem ainda acredita que ele existe? Às vezes eu fico procurando este tal fio, que deve guiar a todos a uma existência ordenada, bem explicadinha, bonitinha, in black and white. Cadê? Fio da vida, cadê você? Eu até que tinha um fio, um algo que me guiava, que me levava a essa existência paradisíaca - um pouco previsível, é fato, mas tudo tem um preço, não é? O preço da segurança, evidentemente, tinha que ser um pouco alto. Eu tinha esse fio da vida, feito de ouro, que me levava para os meus sonhos, uma casa grande, com cachorro, dois filhos, no máximo, algumas pinturas na parede, visitas ali, acolá, de amigos queridos, saudosos, sonhos bonitos, previsíveis, já disse, mas ainda bonitos. E os sonhos se apegaram, se colaram em mim e, de repente, cadê, fio da vida, cadê você? O carretel, ontem, caiu em um abismo que, confesso, não sei de onde veio, por que veio, para onde vai, o abismo, para onde vai o abismo para onde vai? Não sei. O carretel caiu dentro dos meus pensamentos e o abismo está aqui, comigo, no lugar do carretel. O carretel foi embora, mas os sonhos, ah, os sonhos, ainda não consigo me desvencilhar deles.

2 comentários:

Bárbara Lima disse...

"Primeiro você cai num poço. Mas não é ruim cair num poço assim de repente? No começo é. Mas você logo começa a curtir as pedras do poço. O limo do poço. A umidade do poço. A água do poço. A terra do poço. O cheiro do poço. O poço do poço. Mas não é ruim a gente ir entrando nos poços dos poços sem fim? A gente não sente medo? A gente sente um pouco de medo mas não dói. A gente não morre? A gente morre um pouco em cada poço. E não dói? Morrer não dói. Morrer é entrar noutra. E depois: no fundo do poço do poço do poço do poço você vai descobrir quê." Caio Fernando Abreu

Entendo o poço como tudo que é desconhecido e que, para decifrar, precisa-se entrar o mais fundo, precisa-se esquecer da temperança de fora do poço.

Pra conhecer o poço é preciso senti-lo, é preciso se melar em sua água, é preciso ser um pouco de poço também.

Não dá pra entendê-lo deixando um pedaço de si de fora, dá?

Vai que se encontra um outro carretel perdido dentro do poço, pedindo pra ser achado. É sempre válido!

Jorge Cerqueira disse...

Antes o posso do que o poço?