sexta-feira, 15 de julho de 2011

Que ces't triste Recife...

Recife às vezes é intragável. Feito cachaça. Não dá não. Rasga a garganta antes de ir para o estômago e, quando chega nele, deixa as pernas bambas. É desequilíbrio viver em asfalto furado, sentir o paradoxo do sol e chuva, beber a água suja do Beberibe, cheirar os esgotos abertos, olhar meninos barrigudos, mas mortos de fome. Todo dia, todo dia. Aqui PE na janelinha do carro todos os dias. Carro quebrado, pneu furado em mais um buraco negro da cidade. Ônibus empanturrado de sardinhas humanas. Delícia. Era bom um teletransporte na cidade do caos-do-quando-chove. Recife não dá pra ser humano não. Dá para super-heroi. Um Buda. Uma Shiva. Ser humano vive em cidade melhor, porque caos é para quem tem super-poderes.

Recife merece alcoólatras. Muita cachaça todo dia. Todos bêbados e felizes na cidade das buzinas que não param, dos buracos que não são tapados, dos impostos que não são aplicados, dos "nãos" que são recebidos todos os dias santos. Recife merece uma multidão de bêbados porque limalha se dá bem com ferro, e a cidade, por si só, é um barril de cachaça.

No dia a dia do "bém-bém", ninguém se lembra das ruas de Manuel Bandeira, dos povos míticos e sagrados de Ariano Suassuna, dos botequins artístico & escatológico de Cláudio Assis, do mangue de Chico Science, da arte de Brannand. Ninguém se lembra dos poetas Miró e Erickson Luna. Do bairro dos artistas. Dos dias nos mercados. Ninguém se lembra das belezas do Recife porque, há tempos, o Recife deixou de ser belo. Rios, pontes, overdrives e nenhuma escultura de lama. Nem mangue mangue mangue mangue...

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