Aí você seguiu sua vida. Agulhinha de palheiro estrangeiro. Estranho estrangeiro. Não consegui entender tudo aquilo. E eu segui a minha. Vivi amores, embora soubesse que você queria viver a vida. Amar é um vício, sempre te disse isso. Amei um. Dois. Três. Enquanto você amava a vida. Não sei qual dos dois foi melhor. Seu vício sempre foi viver, o meu sempre foi amar. E amei de perder a vida. E me lembro: a aliança caiu no bueiro. Adeus às nossas costuras. Aos bordados feitos por mãos pacientes. Era nisso que acreditávamos.
Até que, nos meus amores, te percebi nos meus atos. Teu riso eu imitava no meu. Teu olhar triste, que me partia ao meio, eu copiava - era assim que eu partia, transversalmente, meus novos amores. Você desligava o telefone quando surgiam as brigas, criava silêncios absolutos para resolvê-las, chorava silenciosamente as dores, ria com uma veia perturbadora na testa, suava depois do café. É você quem eu imito todos os dias. Para te ter, mesmo que seja em mim mesma. Para fazer sofrer a quem eu, hoje, amo. Para parecer amar mais. Para parecer amar menos.
Não sei em que momento acreditei que jogar a aliança na latrina fosse te afastar de mim. Quando o anelzinho de metal ainda estava no meu dedo, eu ainda era eu. Quando ele saiu de mim, passei a ser você.
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