domingo, 2 de março de 2008


Transparecem nas simples atitudes a nossa necessidade de expressão. Acordei num dia de quarta-feira, logo na quarta, aquele dia meio-semanal que não te deixa feliz por causa da distância para o fim de semana e o cansaço dos dois dias anteriores. Prefiro as sextas, porque mesmo você já estando suficientemente esgotada para mais um dia de esforços, o consolo reside no dia seguinte. Mas as quartas-feiras não têm muitas novidades, pura rotina e muito cansaço, que consome as energias de tentar ser agradável com os outros e com os próprios pensamentos. Um cansaço de causar investigações de um simples desenho das nuvens.
Foi numa quarta que eu acordei disposta a mudar a minha rotina. Abri os olhos, as cortinas, as janelas, os braços, a porta, pronta para abrir e abraçar oportunidades. Simples, mas oportunidades. Acendi um incenso – o aroma do incenso alivia almas irritadiças, desbloqueia a respiração -, tomei um banho gelado. Resolvi ligar o ventilador e permitir que o próprio vento me secasse, lembrei da minha avó. Ela sempre me dizia quando eu era pequena que as melhores coisas da vida aconteciam no seu ritmo natural, e lembrei que o gozo também era assim. Talvez vovó falasse a verdade. Deixei-me em paz. Secando.
Falando em vovó... Nessa quarta-feira meio-semanal, me deu umas saudades da infância! Isso não acontece sempre, sabe, pois tento controlar o instinto nostálgico, já que Tico e Teco, meus dois queridos neurônios, são danados a me trazer a tona lembranças, com direito a cheirinhos e melodias. Peguei algumas fotos do armário e vi o quanto eu era feliz. E não sabia. Já dizia Ataulfo Alves. Era gostoso o tempo em que não tínhamos passado para futucar, quando a barba do meu pai cheinha de espinhos era meu maior e melhor atrativo e a bolinha de carnosidade do dedo mindinho de mamãe, a minha compulsão. Os banhos de mangueira, caçar soldadinhos, lavar carro, patins, tardinha era gostoso. Era gostoso os tempos dos inhos.
E hoje só problemas pra resolver, personalidades para equilibrar, pressa pra tudo. Ô vida-pressa. Mas nesse dia resolvi me respeitar, pelo menos por um dia. Vi as fotos, guardei-as, estava perto do almoço, mas fui à sorveteria da esquina. A mulher do caixa me deu o cardápio, acabei escolhendo o sorvete mais bonito, com calda de morangobaunilhamentacaramelo com direito a chantilly, granulados, biscoito, nem me importei muito com o sorvete, mas aquela fotografia estava linda! E fiel: o sorvete tava uma delícia. Voltei para casa satisfeita, comigo.
Voltei bem infinito particular e, por isso, resolvi escutar Marisa Monte. Marisa me parece ser tão limpa. Vai ver que é porque ela é vegetariana. Queria ser vegetariana, mas não consigo, porque quando eu como somente verduras e soja, fico logo com fome, aí acabo me afundando em porcaria. Já consegui passar uns dois meses sem comer carne, só que desisti também porque é muito chato ter de mudar o almoço da casa dos outros só porque você não quer comer carne. Mas Marisa me parece muito limpa. E escutei durante um bom tempo, ela é prática, sabe, e simples. Às vezes cansa um pouco ler Caio e Clarice, porque eles não propõem muitas soluções, freqüentemente falam de dor e incongruências, e eu deveria evitar essas leituras, porque sou tendenciosa para essa polaridade meio negativa. Nessa quarta resolvi fazer diferente.
Chegou de tardinha, vi um filme gostoso. Desses meio comédias românticas que eu raramente vejo. Dei umas risadas legais, é bom trocar um pouco. O cara da locadora deve achar que minha vida amorosa é pouco emocionante, porque eu sempre fico ajoelhada na parte de drama, nunca procuro um filme light. Nessa quarta ele deve ter estranhado. De noitinha, comi macarronada com suco de maracujá, depois maçã, para limpar os dentes.
Essa quarta foi, sim, bem meio-semanal, cronologicamente. De mim, dependeu a vontade de abrir ou fechar os olhos quando eles estavam fechados, dependeu de mim o cheiro do meu quarto, a trava dos meus músculos, a temperatura do meu corpo. Fui eu quem escolhi, antes de comer a maçã, o cheiro posterior da minha boca. Mudei algumas leituras, alguns filmes, alguns enjoys. Que não são necessariamente ações para soluções, mas possibilidades. E foram nessas pequenas ações que transpareceram a minha necessidade de expressão. A vontade de mostrar a mim mesma que tenho, sim, uma força gigante, atrativa e entranhada dentro de mim.

3 comentários:

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

mt bom o texto!
grande mas vale a pena ler =D
e que bom que vc sabe q tem uma força enorme dentro de vc. saiba como usá-la,tah?



eu te amo.

Unknown disse...

guerreia,
te admiro muito minha flor.

prodígio :*