domingo, 18 de janeiro de 2009

Uma viagem



Vamos, amor. Vamos viajar para o infinito, assim como viajamos todos os dias, na respiração, nos sentidos, no abraço colado que exige corpo e alma juntos, que exige todo o ser. Vamos viajar. Aceito aquele lugares bem a nossa cara. Nada de Texas, Brasília ou Hong Kong. Nada muito parado, projetado, ou até efervescente demais. Nada que beire os excessos, porque, pesando numa balança, até que nos equilibramos um pouco. Você com os negativos, eu com os positivos e vice-versa, conseguimos anular tudo e chegar ao zero, que representa o nada e ao mesmo tempo o tudo que somos. Vá lá estou exagerando um pouco no equilíbrio, na verdade não alcançamos muito a Seção Áurea, proporcionalidade ideal de uma fotografia, ou a seqüência de Fibonacci, ou todas essas coisas que traduzem artes perfeitas. Você com seus ciúmes e silêncios, eu com minhas análises e pensamentos, somos bem capazes de criar uma tela expressionista, ou algo meio Bosh ou Miró, ou Dalí, na verdade sem muitos equilíbrios, mas harmônicos com seus excessos. Mais ou menos isso que somos: uma harmonia de excessos. Pois bem. Continuo achando que o Texas, Brasília e Hong Kong não são cidades harmônicas. Acho que o Texas é muito vazio, Brasília muito planejada, Hong Kong muito apinhada de gente de luz de prédio de ambições, nada disso que somos, nossa existência mansinha e doce, um retiro, lugar longe de tudo o que é muito grande, muito barulhento, muito poluído. Mas ainda acho que devemos viajar. Para um lugar tipo Babilônia, Marrakesh, Calcutá, hum... Vale Tibete, Amazônia, Acre, Acre? Tá na lista. Você escolhe, OK? Mas acho que devemos viajar para lugares assim, onde haja jardins suspensos, flores lindas, cores fortes, tudo com cheiro de incenso, travesseiros de alfazema, de macela, lugares onde possamos visitar templos budistas, aldeias indígenas, sinagogas e no final descobrirmos que o nosso amor ainda é maior, vivo, a penetrar todos os templos e religiões, todos os bares e cafés e cabarets, imutável, impenetrável. Vamos, amor. Iremos ao centro da terra ou ao fundo do mar. Podemos pegar um avião e fazermos o resto da viagem em cima de um mamute, ou no Nautilus, o submarino de Verne. Podemos ir de bicicleta, triciclo, motocicleta, você escolhe. Menos carro. Carro tá ultrapassado e você não sabe dirigir. Bem, amor. Você escolhe. Vem aqui pra casa, pro meu quarto, pra minha cama, viajaremos para onde você quiser.

Imagem de uma verdadeira Nautilus (não o submarino). Nautilus pompilus, Linnaeus, 1758. Achei pela internet sem autoria. 

3 comentários:

Jorge Cerqueira disse...

Sensacional. Há palavras, mas é também quase sem palavras. Não deveria ter comentado. Opa, muitas palavras.

Unknown disse...

Barbara ..estava aqui passaando pelo orkut ...adorei este texto..

to guardando pra mim tá ?
bjs
Tia Marta

Ana Vallestero disse...

O casco do caracol... Infinito... a sequencia matematica que ira defini o segredo do universo .... o nome de Deus ..... mas or enquanto ela so define o infinito .... assim ...